Wrigley: «Se vier, esteja preparado para a guerra»
Ele cresceu entre as terras altas esmeraldas do País de Gales. Agora, ele luta entre as colinas ondulantes da zona rural de Kharkiv. As paisagens podem parecer estranhamente familiares. Mas enquanto as terras altas galesas sussurram a chuva do Atlântico, as encostas ucranianas ecoam com o trovão distante da artilharia.
Wrigley juntou-se à 3ª Legião Internacional para a Defesa da Ucrânia para proteger os inocentes. E isso não é apenas um slogan ou uma frase nobre para ele — é um princípio pessoal pelo qual ele vive e está disposto a agir, não importa o custo:
“No início, não tinha a certeza se vir para cá era a escolha certa. Mas estar aqui só reforçou a minha convicção. As mulheres e as crianças não merecem o que são forçadas a suportar todos os dias, e estou feliz por ter vindo.”
O galês de 24 anos está na Legião há cerca de quatro meses e meio na altura da entrevista. Mesmo nesse curto espaço de tempo, Wrigley passou por uma quantidade avassaladora de experiências que marcaram a sua vida. E, claro, a primeira vez que se deparou cara a cara com o inimigo é algo que ficará para sempre gravado na sua memória:
«Devido ao uso de drones, o inimigo permaneceu escondido, por isso não o vimos até que ele se revelasse. Para sobreviver naquela situação, disparei fogo de supressão e ajudei a minha equipa a recuar enquanto continuavam a suprimir o inimigo.»
Quando se encontra a apenas sete metros do inimigo, pode ser bastante assustador para a maioria das pessoas. Naquele momento, porém, Wrigley estava cheio de adrenalina:
“Toda a situação era extremamente perigosa, porque mesmo enquanto recuávamos, eles começaram a atacar as nossas posições com morteiros e artilharia. E quando isso não conseguiu nos atingir, eles enviaram seis ou sete drones, cada um carregando duas cargas. Tivemos que continuar correndo, manter a forma física para o combate e garantir que todos os membros da equipa estivessem bem no caminho de volta.»
Outra história que Wrigley compartilhou conosco ilustra a importância vital das habilidades médicas nesta guerra. No campo de batalha, cada combatente deve ser parte soldado, parte médico — porque a sobrevivência muitas vezes depende de segundos. Saber como estancar um sangramento pode fazer a diferença entre a vida e a morte — não apenas para si mesmo, mas para o homem que luta ao seu lado:
«Estávamos numa missão quando um dos meus melhores amigos foi atingido por um morteiro. Tivemos de realizar o que chamamos de cuidados sob fogo. Enquanto estávamos lá, usei gaze e uma ligadura israelita porque ele tinha ferimentos nas costas e no pé.»
Wrigley e os seus colegas de equipa tiveram de carregar o seu irmão ferido por seis a sete quilómetros para fora da zona de perigo, com drones a segui-los durante todo o caminho. Felizmente, mover-se sob a cobertura das árvores tornou muito mais difícil para os drones localizarem a sua posição exata:
“No entanto, os drones continuavam a lançar granadas e os morteiros estavam a cair nas proximidades. A certa altura, havia também FPVs na área, por isso tivemos de parar e nos proteger. Quando finalmente conseguimos voltar para um local seguro, chegámos ao ponto de triagem, onde o meu companheiro recebeu cuidados médicos, incluindo a remoção de estilhaços e pontos.”
Os drones inimigos tornaram-se a maior maldição desta guerra. Já descrevemos o momento em que Wrigley e os seus companheiros de armas se depararam com um drone FPV enquanto viajavam na parte de trás de uma carrinha. O momento em que abateram aquele drone ficará para sempre na sua memória — mas há muitos outros encontros com drones que permanecem na memória:
“Na maioria das vezes, tudo gira em torno dos drones. Seja em um ataque, em uma missão de reconhecimento ou simplesmente voltando para um local seguro — os drones estão por toda parte e são a principal ameaça nesta guerra. Eles lançam grandes bombas, granadas, C4; às vezes são termobáricas, às vezes até napalm. E agora eles também usam esses drones para nos observar e triangular o fogo de morteiros e artilharia em nossas posições.”
Com base em inúmeros encontros, Wrigley delineou conselhos práticos e cenários de combate reais que podem ajudar a sobreviver. Aqui estão as lições principais — o que fazer, o que evitar e como ser mais esperto que o inimigo no céu:
«Mantenha a calma, mantenha os olhos abertos, seja proativo e ágil. Nem sempre é preciso correr, mas é preciso estar sempre atento. Se conseguir avistar o drone, avise todos os outros e dirija-se às árvores para se proteger. Se não houver árvores e estiver em campo aberto, precisa manter distância entre si e o drone — continue a mover-se e procure qualquer tipo de cobertura. A melhor proteção é subterrânea, em bunkers ou blindagens. E se não conseguir chegar a esses locais, use qualquer cobertura que tiver ao seu alcance da melhor forma possível.»
A guerra é um desafio em constante evolução, mudando a sua forma e exigências a cada nova fase. É por isso que Wrigley enfatiza a importância do treino contínuo e do autoaperfeiçoamento — para se manter adaptável, aprimorar as habilidades e permanecer verdadeiramente pronto para o combate quando mais importa:
“Não se pode vir aqui e ser preguiçoso. É preciso ser proativo e manter-se em forma. Recomendo correr, fazer flexões, barras e abdominais. Tem de ser forte tanto física como mentalmente. Ultrapasse sempre os seus limites — e, se vier, esteja pronto para a guerra.»
Texto: Dmytro Tolkachov
Fotos e vídeo: Volodymyr Patola
Edição de vídeo: Oleksandr Los